#6 O “X” do mapa

Heloisa Mazzolin Sorrilla
5 min readJan 10, 2021

--

Bom dia, boa tarde ou boa noite a você que espreita meus escritos de sua tela!

Hoje, com muito pesar no coração, trago as últimas palavras dessa jornada de publicações para a disciplina Discurso Literário: criação, edição e consumo, que tracei com vocês ao longo das semanas. *Agora sim podemos chorar pelo leite derramado.*

Nas últimas semanas trabalhamos com a ideia da definição do discurso literário e do regime que o tange, pensando no que faz dos discursos, justamente, literários. Hoje o rolê vai ser um tiquinho diferente!

Desde o início das publicações venho dizendo que nossa meta, enquanto alunos, seria a de desenvolver textos, aqui no Medium, ao longo da disciplina para refletir sobre temas trabalhados nos encontros e como trabalho final da matéria, teríamos que selecionar um objeto editorial para propormos a ele uma reedição.

No meu segundo post por aqui, apresentei meu objeto editorial: a edição de “O ateneu” de Raul Pompéia, desenvolvida pela editora Klick para a coleção “Vestibular” do jornal O Estado de S. Paulo. Como o trabalho final foi gravado, ao invés de publicado em forma de texto por aqui, se tiver interesse em saber um pouco mais sobre como ficou a minha ideia de reedição, dá uma olhada nesse vídeo aqui.

Proposta de reedição de “O Ateneu”, de Raul Pompéia, por Heloisa Sorrilla

Hoje minha ideia é falar um pouco sobre um dos projetos finais da matéria (que não o meu) que me chamou bastante a atenção e uni-lo a um conceito exposto em nosso último encontro teórico da disciplina, a heterotopia.

A princípio, vou tratar desse grande rolê intitulado heterotopia. Bora?

*Diferentemente de outros conceitos aqui expostos, que normalmente fazem parte de teorias de Dominique Maingueneau, o conceito de hoje vem do filósofo Michel Foucault.*

Foucault, em uma conferência no Cercle d’Études Architecturales em 14 de março de 1967, desenvolve a ideia de espaços heterotópicos, que, de forma geral, são espaços que não classificam-se como utópicos (exatamente por existirem), nem como distópicos (pois fazem parte da nossa organização social em funcionamento), mas que também não são observados e experienciados por nós de forma comum. Os espaços heterotópicos são espaços (não necessariamente físicos, podendo ser simplesmente heterotopias, como algo ou alguém) que nos tiram da realidade e nos levam a outros lugares (bons ou ruins), onde até o tempo e as interações nos atingem de formas diferentes. São lugares nos quais há quase que um ritual de entrada (seja este até um deslocamento físico, por exemplo) ou saída, onde vivemos algo que nos leva além de nós mesmos.

Deu pra ter uma ideia da parada? Beleza. Agora, o que isso tem a ver com o projeto editorial que eu resolvi trazer aqui pra vocês?

Pois bem, um objeto editorial literário (ou até não literário, dependendo do caso) é uma heterotopia! Quando realizamos uma leitura, somos transportados para um lugar que normalmente nos suspende do mundo externo e faz com que viajemos além do espaço-tempo. *Quem nunca achou que tinha lido por meia hora e quando olhou para o relógio, percebeu que, no mínimo, umas duas horas já tinham se passado, né não?*

Então, como citei no começo desse texto, escolhi uma proposta de reedição de um objeto editorial para comentar um pouco aqui hoje, que, pra mim, é um grande exemplo de heterotopia: o projeto de reedição da Vitória Marques.

Proposta de reedição “Livro de Contos”, por Vitória Marques

De maneira geral, sua ideia é a de construir um livro de contos em cima da coleção de quadrinhos “Confinada”, do ilustrador Leandro Assis, que publica suas produções de maneira “quebrada” (posta um pequeno número de quadrinhos de uma história, paulatinamente) em postagens na rede social Instagram.

Acompanho Leandro Assis e suas publicações desde que entrei no Instagram (há pouco menos de dois anos), além de outres autories que também trabalham com a postagem de quadrinhos através dessa rede social. *Sinto até já ter criado um laço afetivo com essa forma de publicação, aguardando a cada dia um quadrinho novo, como se fosse uma senhora aguardando mais um capítulo de sua novela preferida.* Leandro traz histórias daquelas que nos colocam contra a parede, para que reflitamos sobre muitas questões, principalmente sobre as múltiplas desigualdades ao nosso redor.

Há alguns anos tenho entrado em contato com o universo das histórias em quadrinhos/graphic novels (através de obras como Maus, de Art Spiegelman, e Persépolis, de Marjane Satrapi) e tenho percebido, pontualmente nessa pandemia (na qual tenho me sentido uma leitora dispersa, com extrema dificuldade de imergir em obras), que os quadrinhos me envolvem de uma forma muito interessante, dando fôlego ao meu lado literário para prosseguir com alguma forma de leitura em meio a tantos sentimentos confusos que o confinamento tem me gerado. E nesse meio de leituras em quadrinho, há também as histórias que leio cotidianamente, como as de Leandro, navegando em redes como o Instagram. Nunca havia pensado em como seria tirá-las daquele universo (exatamente pela criação de uma certa rotina para realizar as curtas leituras dessas ilustrações no celular) para transformá-las em algo com um contexto totalmente diferente como um livro. Acho que isso foi o que mais me chamou a atenção na proposta da Vitória: a ideia de construir um corpo e traçar um novo mídium para um objeto editorial antes disperso em um feed da rede social Instagram.

Acredito que essa mudança possa ser muito interessante para que leitories além do Instagram possam ter acesso a essas histórias, isso além do fato da reformulação da organização desses quadrinhos possibilitar uma maior imersão na história, desenvolvendo uma continuidade que não acontece rolando o feed do Instagram, tornando o compilado de quadrinhos uma experiência heterotópica!

Tanto partindo da proposta da Vitória de desenvolver contos em cima das histórias em quadrinho de Leandro Assis, quanto apenas de uma ideia de publicação desses quadrinhos compilados em forma de livro, acredito que esse projeto tem tudo pra ser sucesso! *Ahazou, Vitória!*

Dessa forma, deixo aqui o meu “tchau” temporário (pretendo voltar aqui pra trazer mais da graduação além da disciplina Discurso Literário: criação, edição e consumo, mas antes preciso de um descansinho rs), um enorme agradecimento à professora Luciana Salazar Salgado que ministrou de maneira inenarrável uma disciplina tão rica em um momento tão difícil como esse e o meu muito obrigada a você, queride leitorie, que acompanhou cada passo meu nessa jornada, até que chegássemos, juntos, ao “X” do mapa! Sintam-se abraçades por mim!

Cuidem-se e cuidem de quem amam, sempre lembrando que o amor não tem fronteiras e que às vezes a distância é necessária para que possamos ter a chance de nos abraçarmos com mais força (e sem medo) quando as coisas melhorarem! Até breve!

--

--